Uma pesquisa sobre a sensibilidade em larga escala das florestas amazônicas à seca vem chamando a atenção de especialistas da área. O estudo foi liderado por pesquisadores brasileiros, dentre os quais está Julia Tavares. Bióloga formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e doutora pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, ela hoje faz um pós-doutorado em Ecologia de Florestas Tropicais, na Universidade de Uppsala, na Suécia.
1) Como decidiu estudar essa área?
Por um bom tempo na minha vida, eu achei que queria fazer medicina, mas no meio dos preparatórios para o vestibular eu me encantei com a Ecologia e me encontrei nesse novo rumo. Eu sempre quis conhecer na Amazônia. Antes eu achava que queria visitá-la, mas depois, quando eu decidi fazer faculdade de Biologia, descobri que queria estudá-la. Por isso apliquei para o mestrado em Ecologia no Inpa, quando então tive o privilégio de viver a Amazônia de perto por alguns maravilhosos anos. Depois, fui morar na Inglaterra, graças ao Programa de Doutorado Pleno no Exterior, da CAPES, e comecei a trabalhar com Ecofisiologia na Amazônia, o que resultou no artigo publicado recentemente na revista Nature. A Amazônia é deslumbrante, é absolutamente poderosa! Uma vez que se está lá, se sente como somos pequenos. É um privilégio enorme poder dizer que o meu trabalho é tentar entender um pouco desse lugar incrível, suas nuances e complexidades.
2) Como você soube que seu artigo seria publicado na Nature?
Esse artigo foi o primeiro estudo a indicar quais florestas amazônicas correm maior risco de mortalidade induzida pela seca e como a vulnerabilidade à seca está relacionada com as distribuições biogeográficas das espécies amazônicas e o balanço de carbono florestal frente às mudanças no clima. Dado o caráter inovador e a larga escala da pesquisa – abrangendo todo o gradiente de precipitação da Amazônia –, nós decidimos submeter esse artigo para a Nature. Esse trabalho demorou cinco anos para ficar pronto. E agora é muito bacana ver o artigo recebendo grande atenção no universo acadêmico e não acadêmico e sendo publicadas notícias sobre ele em inúmeros países.
3) O que te instigou a pesquisar sobre o tema?
Para entendermos as nuances das respostas das diferentes florestas amazônicas às mudanças climáticas que já estão acontecendo e às mudanças futuras, é fundamental estudar os mecanismos e características fisiológicas que estão relacionadas à capacidade das árvores de resistir ao estresse hídrico.
Quando eu iniciei meu doutorado, entender as causas e consequências do aumento da mortalidade de árvores na Amazônia era o objetivo do Projeto Tremor, liderado pelo meu orientador do doutorado e também brasileiro, David Galbraith. Por este Projeto, financiado pelo Natural Environment Research Council – NERC (Conselho de Pesquisa de Meio Ambiente Natural, em livre tradução), do Reino Unido, e, também, com o financiamento da CAPES fui realizar essa investigação em larga escala na Amazônia.
4) Como foi feita a pesquisa e quais descobertas vocês tiveram?
A Amazônia é esplêndida e muito grandiosa, e para conseguir abordar uma pergunta em uma ampla escala espacial e temporal é preciso reunir múltiplos esforços. Além disso, o trabalho de ecofisiologia requer medidas minuciosas, tendo que as coletas serem feitas durante a madrugada e as amostras extraídas do topo das árvores, que tem 30-40 metros de altura! Esse estudo, que é parte da minha tese de doutorado, reflete um imenso esforço coletivo de 80 pesquisadores da América do Sul e da Europa para tentar entender a sensibilidade das florestas Amazônicas às secas e como isso está relacionado ao balanço de carbono das florestas, ou seja, com a habilidade das florestas de atuarem como sumidouro ou fonte de carbono para a atmosfera.
Muitas pessoas pensam na Amazônia como uma grande floresta homogênea, mas ela não é. A Amazônia é composta por várias florestas que abrangem diferentes zonas climáticas, desde locais secos até aqueles que são sempre extremamente úmidos. Nossos resultados mostram que as diferentes florestas têm diferentes vulnerabilidades a seca e destaca também o papel das propriedades fisiológicas das árvores na capacidade da floresta em absorver carbono. Encontramos que as florestas com menor margem de segurança hidráulica estão perdendo carbono, funcionando, então, como fonte de carbono para a atmosfera. Nosso artigo também indica que, apesar de adaptada à seca, nas florestas na borda sul da Amazônia, provavelmente dado às intensas mudanças no clima na região, as árvores parecem estar operando além do seu limite fisiológico.
5) Conte-nos sobre a importância da CAPES na sua trajetória.
A CAPES foi de extrema importância para a minha trajetória. Foi através do Programa de Doutorado Pleno no Exterior que tive a oportunidade de fazer o meu doutorado na Universidade de Leeds, no Reino Unido, onde tive a chance de integrar um projeto de pesquisa internacional de larga escala, contando com colaboradores de diversas instituições e países. Essa oportunidade foi muito importante para meu amadurecimento como pesquisadora e para a internacionalização das minhas redes de colaboração. Esse artigo publicado na revista Nature, liderado por uma pesquisadora brasileira, e contando com inúmeros coautores brasileiros, é fruto do investimento da CAPES. Meus agradecimentos à CAPES pelo apoio e, ressalto aqui, o papel imprescindível que a Fundação tem para a realização da pesquisa nacional e valorização dos pesquisadores do País.
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Imagem 1:Julia Tavares, estudante de pós-doutorado em Ecologia de Florestas Tropicais, na Universidade de Uppsala, na Suécia (Foto: Francisco Diniz)
Imagem 2: Julia Tavares, durante a pesquisa (Foto: Francisco Diniz)
Com informações: CGCOM/CAPES
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